quinta-feira, 1 de julho de 2010


"Eu sou esférica"

Sandy, que procura o seu espaço no universo populoso das cantoras brasileiras: "Não tenho mais vontade de gritar"
Algumas intérpretes são movidas pelo instinto, outras por uma compreensão "técnica" daquilo que cantam. Sandy não é, definitivamente, do primeiro time – o time, digamos, de Elis Regina. Poucas coisas a deixam mais enfadada do que a fama de menina certinha que a acompanha há anos. Aluna de um curso de letras na universidade, ela recorre ao vocabulário da crítica literária para se descrever como personalidade: "Gente, eu não sou plana, eu sou esférica". Tudo bem. Mas essa esfera está longe de abrigar um espírito naturalmente turbulento. Sandy também não teve razões biográficas para tornar-se rebelde. Quando nasceu, seu pai, o cantor sertanejo Xororó, já fazia sucesso. "Nós éramos de classe média", diz. Ela estudou em boas escolas, morou em casas confortáveis – e então começou a ganhar o próprio dinheiro. Estima-se que seu patrimônio pessoal seja de 30 milhões de reais, geridos de maneira cautelosa. Ela não sente culpa por ser rica num país de pobres, mas tampouco esbanja. Tem até uma certa fama de pão-dura. "Pão-dura não. Sou controlada", afirma. Uma palavra que a define bem, não só no campo financeiro. Também na música Sandy é controlada. Sabe que para evoluir precisa filiar-se à escola das cantoras "técnicas". Sua jazzista predileta é a americana Ella Fitzgerald. "Ela tinha um canto muito preciso", diz.
No quesito precisão, Sandy não é das piores. Sua voz é pequena, porém afinada de uma maneira que divas da "nova MPB", como Vanessa da Mata, jamais sonharão em ter. Nos últimos tempos, abandonou seu pior vício, os trinados agudíssimos que herdou do sertanejo (com todo o respeito a papai, Sandy confessa que hoje em dia não tolera muito esse gênero de música). Ela canta até dois tons abaixo de seu registro anterior. "Não tenho mais vontade de gritar", diz. Esse tipo de abordagem pode levar a um show frio, contido demais. O trunfo de Sandy é sua longa experiência. "Quando eu tinha 13 anos, ia cantar em festas de rodeio e ouvia barbaridades do público masculino. Não tem muita coisa que me assuste no palco", afirma ela. Do currículo da artista constam várias apresentações para mais de 100 000 fãs, e uma para 250 000 pessoas no Rock in Rio de 2001. Isso significa traquejo não só para lidar com platéias dispersas ou mal-educadas, mas também para se equilibrar entre números românticos e animados. Talvez o maior legado de seus tempos de estrela adolescente, encantada com Celine Dion e Mariah Carey, seja a certeza de que um show precisa entreter, ser espetáculo. "Existe uma certa cultura na música brasileira de que tudo tem de ser pequenininho. É uma coisa humilde, minimalista. Eu não acho que tudo tem de ser pequeno. Não quero voltar a ser a Celine Dion, mas também não pretendo ser a Sandy bossa-nova", diz ela.

By: Cyssa S.

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